Eu preciso começar com uma confissão pessoal – Eu gosto de ler livros que brincam com a possibilidade de “Viajar no Tempo”. Sabe – aquele livro que manda um cara do século 21 de volta aos tempos medievais para ver se ele consegue sobreviver (e claro, ganhar a batalha!). Faz alguns meses que Lucas Gomes, no meio de uma conversa pessoal, lançou uma pergunta pra mim – uma pergunta que me levou a “Viajar no Tempo.” Qual foi a pergunta?
“Steve, se você pudesse voltar há 30 anos e começar de novo como plantador de igreja(s) — com a energia de jovem, mas com a experiência de idade, o que você faria igual…e o que você faria diferente?”
Passei um tempo refletindo sobre essa pergunta, e acabei alistando 7 áreas – áreas que seriam áreas essenciais a serem consideradas nesta minha viagem no tempo.
1) Se for Possível, Não Começar sem Clareza de Propósito (Calculando o preço) Antes de Começar
Qual o propósito desta plantação? Qual a razão por este local? Quais os valores que uma igreja nova traria para este bairro, esta cidade? Qual a razão de eu estar envolvido? Qual a visão maior atrás da plantação? Qual o publico alvo que precisamos alcançar? Qual a faixa econômica que pretendemos alcançar? Quantas igrejas boas já tem no bairro?
Imaginando esta nova igreja daqui a 10 anos, qual o papel, razão, propósito, necessidade, vibe, valor desta igreja?
Muitas vezes começamos com nada mais do que um desejo de ter “mais um ponto de pregação na cidade”. E não tem nada errado com este desejo. Porém, não seria bom “calcular o preço” um pouco melhor antes de começar?
Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço,
para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? (Lc. 14:28)
2) Se for Possível, Nâo Começar sem um Plantador “Chamado e Aprovado” como Parte da Equipe
Mark Driscoll (antes de cair em pecado e abuso eclesiástico) entendeu como poucos o processo e fatores essenciais na plantação de igrejas. E uma fala dele me marcou muito na minha jornada como plantador e “coach”. Ele disse:
“Eu aprendi o seguinte: Eu vou investir em treinar os chamados,
mas desisti de investir em chamar os treinados”
Ou seja: Precisamos de plantadores com o chamado de plantar igrejas. Plantadores dispostos a começar de zero. Plantadores que sabem que não vão ter um salário “fixo” e uma estrutura pronta. Plantadores chamados para enfrentar tudo isso (e mais!) – estes podemos treinar. Mas aquele seminarista que foi bem treinado e está na procura de uma igreja onde ministrar – ou o pastor bem treinado e com experiência em várias igrejas locais – SE ele não tem um chamado especifico para os desafios únicos e árduos que virão como plantador… Mark Driscol disse que ele desistiu de tentar “chamar” estes seminaristas e pastores para a arena de plantação. Nada contra tais pastores. Mas ele reconheceu que o trabalho, ministério, desafio e “chamado” de um plantador não é para todos, não é de todos e é essencial antes de investir nele(s).
3) Se for Possível, Plantar em Equipe….e em Equipe bem Engajada.
Imagino que quase todos nós temos ouvido a importância destes fatores essenciais numa equipe:
Caráter
Competência
Química
Descobrimos (infelizmente) que uma equipe que tenta atuar sem TODAS estas 3 qualidades funcionando bem…vai ser uma equipe destinada a fracassar, falhar ou pior – implodir! (e sim, já passei por uma implosão dessa e não quero nunca mais!)
Eu diria mais: ANTES de mudar para uma cidade nova ou bairro novo, passe pelo menos 6 meses se reunindo como equipe – de preferência mentoreada por alguém de fora e com experiência – que sabe bem avaliar e desafiar a equipe nas seguintes áreas:
- Avaliar o Caráter, Competência, Química de cada membro da equipe e da equipe como toda
- Avaliar os dons espirituais da equipe
- Prestar atenção especial aos dons de liderança mencionados em Efésios 4:11 a 16 — Apóstolo, Profeta, Evangelista, Pastor, Mestre
- Avaliar as Áreas Fortes (teste do Grupo Barna) de cada membro da equipe
- Avaliar e ser Treinados como equipe em “Resolução de Conflitos”
- Avaliar e Decidir nos cargos e áreas de ministério de cada um
Anote: Se o plantador pretende começar sozinho, não pule esta etapa. Faça a avaliação pessoal. É essencial “auto entender” antes de começar.
4) Se for Possível, Plantar Apoiado por uma Igreja Mãe, Igreja Parceira ou Igreja Enviadora.
Quando “A Equipe Rio” chegou para plantar “uma rede de igrejas no Rio de Janeiro”, chegamos numa equipe de 4 casais. Chegamos com um propósito bem elaborado. Chegamos depois de ser bem avaliados e treinados no exterior. Porém, ao chegar no Rio de Janeiro, chegamos sozinhos. E pior, nem reconhecemos a necessidade de apoio de outros. Fomos jovens, treinados, cheios de entusiasmo…e arrogância. Íamos mostrar para o mundo a maneira certa (e claro, isto significava a maneira nossa) de plantar igrejas no Rio de Janeiro. Sem conhecer a cidade. Sem ter uma igreja parceira na cidade. Sem ter uma igreja parceira no Brasil. Sem ter uma igreja enviadora. Sem ter uma igreja apoiadora.
E tudo funcionava bem até passamos por dificuldades e desafios além da nossa (pouca) experiência. Sem valorizar este apoio essencial, pagamos muito caro quando mais precisávamos. Como teria sido diferente se tivéssemos valorizado o apoio em oração, sustento, visitas, coaching, encorajamento, treinamento… e experiência. Como teria sido diferente…. (cadê aquele máquina de tempo?)
5) Auto Policiar para, Se for Possível, NÃO fazer tudo Sozinho.
Como já mencionei, quando chegamos ao Rio começamos o trabalho com 4 casais. 4 casais bem treinados. 4 casais cheio de pique. 4 casais ansiosos a trabalhar. 4 casais cheios de energia. E 4 casais que acabaram fazendo todo o trabalho do ministério nos primeiros 3 anos. Sabe o resultado? No início, plantamos uma igreja de espectadores. Louvor excelente feito por nós, pregação bem feita por nós, ministério infantil liderado por nós, eventos totalmente planejados por nós. E as pessoas vinham para ver o que nós fazíamos. Infelizmente, acabamos “roubando” deles o sentido do Corpo de Cristo, “roubando” deles a chance de aprender e fazer e falhar e crescer na sua fé, “roubando” deles a compreensão de que a igreja eram eles e deles (claro, a igreja é de Cristo, mas é importante sentir como membros e parte útil do corpo).
De acordo com a Bíblia, o corpo de Cristo precisa de todos. Porém, será que nós (os plantadores especialistas) passamos esta mensagem? A igreja que está nascendo precisa das pessoas mais do que para ajudar a pagar as contas?
Cuidado em agir como o “profissional”. Cuidado em agir sozinho. Cuidado em desvalorizar a importância de cada parte do corpo de Cristo.
6) Se for Possível, Ser Ágil para Avaliar, Ajustar, Re-Pensar e Mudar com Frequência (se for necessário).
Um amigo meu também foi plantar uma igreja na cidade do Rio de Janeiro. Ele foi com um plano bem elaborado e financiado para plantar uma mega-igreja entre a alta sociedade do bairro de Barra da Tijuca. O que ele não imaginava era que bem no início uma dessas pessoas ricas trouxe a empregada dela para um culto (imagine o horror!). A empregada se converteu e em menos de 3 meses trouxe mais 40 pessoas “simples” que moravam na Cidade de Deus para a igreja “rica” dele na Barra da Tijuca. A igreja estava bombando de pessoas novas….mas não as pessoas que ele planejava a alcançar.
Os planos são seus? Ou será que os planos pertencem ao Senhor? Você está disposto a mudar do seu jeito (tipo: ser missionário), aculturar e adaptar para melhor alcançar as pessoas no seu contexto e executar o plano que Deus tem para seu ministério? O que você teria feito na situação dele? Avaliar, Ajustar, Re-Pensar … e até mudar?????
Interessante – no primeiro ponto meu neste artigo falei em ter um plano claro e bem elaborado. Agora parece que estou argumentado de estar disposto a jogar tudo isso fora. E é isso mesmo! Jesus falou em calcular o preço antes de começar, e no livro de Provérbios 16:9 diz:
Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos.
Não é errado planejar. É bom planejar. Mas ao mesmo tempo é essencial avaliar (os planos), ajustar (os planos), re-pensar (os planos) e mudar (os planos) … deixando o Senhor determinar os seus passos.
7) Se for Possível, Preparar-se desde o início para as Transições que Virão.
O trabalho de um plantador é bem diferente do trabalho de um pastor numa igreja estabelecida. O trabalho de um plantador\pastor de uma igreja de 35 pessoas é bem diferente de um plantador\pastor de uma igreja de 100 pessoas. Sabia disso? Compreende as diferenças entre o estilo de liderança necessária numa igreja de 50 e uma igreja de 200? Lyle Schaller, um guru na área de plantação de igrejas, argumenta que tem 7 faixas diferentes de igrejas (em termos de número) e que cada faixa exige um tipo de liderança, pastoreio e estrutura diferente:
- Igreja “em casa” (35 ou menos pessoas)
- Igreja pequena (35-100 pessoas)
- Igreja Média (100-175 pessoas)
- Igreja Desajeitada (nem media nem grande) (175-225 pessoas)
- Igreja Grande (225-450 pessoas)
- Igreja Gigante (450-700 pessoas)
- Igreja Mega (Mini-denominação) (750+ pessoas)
E Schaller argumenta que na “fronteira” de cada divisão a transição de estilo, estrutura e liderança tem que ser re-avaliada.
Outra pergunta essencial? Você, plantador, você é plantador ou pastor? (muito difícil ser os 2) Se for plantador, está disposto a entregar a plantação justamente quando está se firmando e formando como igreja estruturada? Se não, está disposto a re-inventar o estilo de liderança e ministério para “pastorear e liderar” mais do que “continuar a plantar”? Se for Possivel, Preparar desde o início para as Transições que Virão.
Infelizmente, não vou poder viajar no tempo. Infelizmente, não sou mais jovem. Infelizmente, não posso voltar e fazer tudo de novo. Mas você, jovem plantador. Não faça como nós fizemos – mas aproveite um pouco das nossas experiências (positivas e negativas) para ser um melhor plantador, um melhor líder e um melhor pastor do Senhor e para o Senhor.
Steve Spellman
Steve é missionário de Rech Global, servindo no Brasil e Haiti, Coach e grande apoiador de plantação de igrejas, membro da Equipe SPI.
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