Essa expressão nos traz à memória um ato perturbador de injustiça e crueldade que mexeu não somente com a sociedade de um país (EUA), mas comoveu o mundo inteiro.
Quando se perde o senso da dignidade do próximo como ser humano criado à imagem de Deus, as consequências podem ser devastadoras. Bom, é fácil apontar o dedo para outros… Mas como isso afeta nossos relacionamentos – em nossos lares, na convivência com nossos colegas no trabalho, com os vizinhos… enfim, com as pessoas que encontramos no nosso dia-a-dia?
Deus concedeu ao ser humano a posição privilegiada na criação e a dignidade a ele associada (Gênesis 1.26f; 5.1; 9.6; Sl 8) sem restrições, sem pré-condições e sem distinção – independentemente da cor da pele, raça, origem, sexo, idade, realizações, condição física ou mental, posição social, religião ou cosmovisão. O profeta Malaquias (2.10) do AT expressa isso ao perguntar: “Não temos todos o mesmo Pai? Não fomos todos criados pelo mesmo Deus? Por que será então que quebramos a aliança dos nossos antepassados sendo injustos uns com os outros?”
Pelo exemplo do Bom Samaritano vemos que a caridade, despertada pelo nosso amor genuíno a Jesus, permite-nos agir com autoridade e compaixão em meio a crises (como a pandemia) e a nossos desafios sociais e conflitos éticos pessoais. A verdadeira caridade é uma atitude completamente imparcial, natural, pouco convencional, não espetacular, imperceptível e muitas vezes até inconsciente…
Deus revela suas qualidades e seu caráter divino como amor, misericórdia, bondade, generosidade, aceitação, compaixão, perdão e reconciliação em e por meio de sua criação, e em especial por meio de nós, seres humanos. Não há maneira mais convincente de levar pessoas a experimentarem a presença de Deus do que permitir que vivenciem a autoridade e o poder de Jesus em nossa fraqueza e limitação. Recebemos o sopro de Deus como a fonte de nossa vida (Jó 33,4; At 17,25). Com essa respiração, a melhor coisa que podemos esperar fazer, e a única coisa que nos trará alegria duradoura e realização é demonstrar e compartilhar a vida de quem a soprou em nós. Assim nos tornamos um canal pelo qual pessoas experimentam o sopro de Deus que dá o fôlego para viver.
Fé que é especificamente revelada por compaixão e caridade não pode ser ignorada, pois aponta inequivocamente para Jesus. Ela transmite credibilidade, gera empatia e dá ao próximo a oportunidade de encontrar Jesus de forma real, de experimentar seu poder transformador e dar glória ao Pai no céu (Mt 5,16; 1Pe 2,12 Lc 19,1-10).
A Palavra de Deus revela uma relação profunda entre proclamar as boas novas e praticar boas ações. Fazer o bem não deve se limitar ao que os ricos podem fazer pelos pobres. Todos, independentemente de sua condição social, são chamados à responsabilidade. Somos chamados a atuar com responsabilidade social em todas as áreas da vida: privada, comunitária e pública.
Assim como boas ações de amor, misericórdia e justiça podem levar pessoas a Jesus, a falta de boas ações (omissão), ou pior, egoísmo, desinteresse e negligência também podem ter efeitos negativos que suprimem o fôlego. Consequentemente, muitos se distanciam da comunidade cristã e do evangelho se não reconhecem e não sentem o amor de Jesus no comportamento dos cristãos.
Quantas vezes as pessoas ao nosso redor desejam experimentar o amor de Deus (do qual tanto falamos) em nós como comunidade de Jesus (2Cor. 3:18, Col. 3,10), sem, de fato, encontrá-lo?
Jesus quer nos usar pessoalmente, mas também como comunidade, não apenas para libertar as pessoas do pecado, mas também para libertar as pessoas e seu ambiente dos efeitos do pecado! Isto requer que vejamos o próximo através dos olhos de Jesus, de forma integral, como ser criado à imagem de Deus. Isso nos condiciona a nos aproximarmos, interagirmos e nos relacionarmos com o próximo de tal forma que possam sentir o frescor e o poder do sopro divino libertador e transformador!